As Duas Leituras de Claret

Wagner Williams*

Recentemente li impressionado Santo Antônio Claret por Ele Mesmo (tradução de Elias Leite. São Paulo: Ed. Ave-Maria, 208 ps.) e notei que a vida e a linguagem do arcebispo de Cuba impregnadas nos escritos resultam numa leitura contemplativa e avaliativa. Sim, uma leitura contemplativa – a carreira de Santo Antônio Claret foi um livro aberto às comunicações, transmitida por papéis avulsos, manuais catequéticos, rezas escritas, cartas, livretos, sermões que ele fazia para o anúncio do Reino de Deus, sendo de fato um santo das mídias de seu tempo. É pois essa vida-livro-aberto que torna a sua biografia bela, prazerosa, digna de admiração até dos não cristãos.

Uma leitura avaliativa – uma frase que resume bem a fé desse venerando é a de que “sua maior preocupação eram os problemas da Igreja e o extravio das almas” (p.199). E ao ler a hagiografia claretiana, o leitor é, pelo testemunho de vida do Pe. Claret, naturalmente impelido a avaliar sua própria conduta de cristão fora dos templos, do leigo paroquiano ao sacerdote de Deus. Narrando sua mocidade (ps.9-42), o Pe. Antônio Claret deixa transparecer nas letras sua pureza de criança e de espírito contrito. Será que eu, fiel leigo, deixo transparecer pureza na minha linguagem (1-Tm 5.22)? Pe. Claret não media esforços físicos e financeiros para proclamar a Palavra e acompanhar a fé dos mais humildes. Tenho sido um padre de escritório, encerrado no templo ou em mim mesmo a ponto de não pastorear o meu rebanho mais carente ou distante (Jr 23.1)? A máxima da pessoa de Antônio Claret foi “tornar Deus conhecido, amado e servido” (p.85). Como servo do Senhor eu tenho levado essa máxima aos meus desconhecidos? Ou tenho omitido – e quem sabe até envergonhado – o nome de Jesus em minhas andanças (Lc 9.26)?

O contemplativo e o avaliativo na vida do servo Claret são apelo, grito aos nossos ouvidos, a ecoar aquilo que a sã doutrina nos ensina: santo não é para ser visto como talismã de pedidos; é para ser imitado à luz de Cristo, pois Deus nos chama à santidade sem cessar. “Sede santos, porque eu sou santo” (1-Pd 1.16).

(*) Professor de Produção Textual e membro do grupo FJUC em NSrª da Guia.

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